segunda-feira, 23 de março de 2015

Matéria Reunião dia 26/03/2015 - As nove consciências


O budismo identifica nove tipos de funções espirituais de percepção, denominadas nove consciências. Os cinco primeiros tipos são percepções sensoriais obtidas diretamente pelos cinco órgãos dos sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Da sexta à nona consciência estão as funções perceptivas da mente. A sexta consciência é o poder que integra os cincos sentidos e faz um julgamento de forma inclusiva. Por exemplo, diante de um objeto bonito, mas de péssimo odor, temos a tendência de rejeitá-lo imediatamente. A sétima, denominada manas em sâncrito, representa o poder do pensamento. Em vez de criar um julgamento sobre o que foi percebido pelos cinco sentidos, nessa consciência procuramos encontrar uma certa ordem à luz das experiências vividas e das circunstâncias externas. Em outras palavras, é nessa consciência que existe a manifestação da razão, que é característica apenas dos seres humanos. Como resultado dessa consciência, manifestam-se os valores, conceitos e princípios que herdamos de outras pessoas, como nossos ancestrais, e o que aprendemos no dia-a-dia ou desenvolvemos pela busca de conhecimentos. Assim, por meio dessa consciência, manifesta-se a característica do ego, da discriminação, do auto-apego etc.
A oitava consciência é chamada de alaya, em sâncrito, e corresponder ao que a psicologia moderna denomina de inconsciente. Na consciência alaya, que significa repositório em sânscrito, acumulam-se todas as experiências vividas na forma de ações, pensamentos e palavras, do passado ao presente, ou seja, o carma. Dessa forma, mesmo que uma pessoa não se lembre do que fez em um passado próximo ou distante, tudo fica registrado nessa consciência e, de acordo com a lei da causalidade, não pode escapar da manifestação dos efeitos de todas as causas acumuladas.
Por fim, a nona consciência, denominada amala em sânscrito, significa imaculada. Ela encontra-se na parte mais profunda da vida humana, livre das impurezas que o indivíduo possa trazer como resultado de suas ações passadas e acumuladas na oitava consciência. Nitiren Daishonin elucida essa nona consciência como sendo o próprio estado de Buda, que se estende eternamente do infinito passado ao infinito futuro na vida de todas as pessoas.

De forma prática, como se manifestam as nove consciências no dia-a-dia?
Vejamos uma situação onde há um problema de relacionamento entre duas pessoas. Via de regra, nesse tipo de situação, cada uma das envolvidas analisa os fatos de acordo com sua conveniência e razão, convencendo-se plenamente de que a outra está errada. Assim, reage negativamente, com desrespeito, ofensa, agressão etc. Essas atitudes, muitas vezes, são decorrentes apenas de um julgamento ao nível da sexta consciência, isto é, a pessoa cria uma antipatia meramente pelo o que os seus cinco sentidos tenham captado, antes de uma análise racional no âmbito da sétima consciência. Porém, na maioria das vezes, um julgamento racional baseado em acontecimentos anteriores, isto é, a sétima consciência, acaba criando uma reação negativa. Em qualquer desses casos, as correspondentes ações, palavras e pensamentos resultantes acumulam-se na oitava consciência, na forma de carma negativo. E, dessa forma, cria-se um ciclo vicioso e negativo, alimentando cada vez mais causas negativas. Contudo, o que o budismo ensina é que no âmbito mais profundo de nossa vida se encontra a consciência amala, imaculada e límpida. Se analisarmos o problema com base nela, poderemos então mudar nosso comportamento, tendo uma conduta mais compreensiva, tolerante e até mesmo de gratidão com as pessoas.
Como adquirir forças para manifestar essa compreensão em meio às duras circunstâncias diárias?
Foi justamente para isso que o Buda Original revelou a Lei fundamental da vida, o Nam-myoho-rengue-kyo. Com a sincera recitação do Daimoku, pode-se manifestar coragem e convicção, que proporciona o desenvolvimento do estado de Buda. Assim, desenvolve-se a capacidade e sabedoria para conduzir a vida de forma segura, equilibrada e correta. Na escritura “Resposta à Dama Nitinyo”, Nitiren Daishonin afirma: “Nunca procure o Gohonzon em outros lugares. Ele somente pode habitar o coração das pessoas comuns como nós, que abraçamos o Sutra de Lótus e recitamos o Nam-myoho-rengue-kyo. O corpo é o palácio da nona consciência, a entidade que fundamentalmente reina sobre todas as funções espirituais do homem.” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 1, pág. 325.)
Há uma relação entre as nove consciências e os dez estados de vida?
Como citado no início, as nove consciências são funções espirituais de percepção. Nesse sentido, quanto mais se eleva o estado de vida, mais se aprofunda a correta percepção e compreensão dos fenômenos da vida. Assim, uma pessoa que vive no ciclo dos seis estados inferiores — Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade e Alegria — tem a característica de percepção da vida conforme as seis primeiras consciências. Já os estados de Erudição e Absorção, isto é, os dois veículos, estão relacionados com as percepções da sétima consciência. O estado de Bodhisattva caracteriza-se pela elevada capacidade do ser humano de perceber a vida pela oitava consciência. Por fim, o estado de Buda é a própria nona consciência conforme descreveu o Buda Original Nitiren Daishonin. 

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