segunda-feira, 30 de março de 2015

Matéria Reunião dia 02/04/2015 - Revolução Humana

O QUE SIGNIFICA "REVOLUÇÃO HUMANA"

Edição 1501 - Publicado em 27/Março/1999 - Página C4
Provavelmente, muitos companheiros, ao ouvirem pela primeira vez o termo “revolução humana”, muito utilizado em relatos de comprovação ou de decisão, ou mesmo nas orientações dos responsáveis durante as reuniões de palestra, devem ter ficado intrigados, pensando: “Revolução? Eles querem fazer uma revolução?” 
Esse tipo de pensamento não é, de modo algum, fora do normal, já que os fatos associados a essas palavras que vêm primeiro à mente são: “Revolução Francesa”, “Revolução Religiosa”, “Revolução Industrial”, “Revolução Constitucionalista” etc. Todos são importantes marcos da história que trouxeram grandes mudanças na vida de inúmeras pessoas. A palavra “revolução” parece indicar algo brusco, uma revolta, às vezes armada, ou alguma situação que urge ser mudada para que se dê prosseguimento a um curso de desenvolvimento. 
No dicionário, encontramos como significados da palavra “revolução”, entre outros: “ato ou efeito de revolver” (o que estava sereno); “modificação em qualquer ramo do pensamento humano, abandonando idéias e métodos tradicionais para adotar novas técnicas”. (Michaelis: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa.) 
Com isso, podemos entender que “revolução humana” indica uma transformação do ser humano, uma mudança interior da vida no nível mais fundamental do ser. 
Numa orientação destinada a jovens estudantes, o presidente da SGI, Daisaku Ikeda, disse: “A revolução humana ocorre a partir do momento em que uma pessoa passa a visualizar além de seu mundo restrito, rotineiro e comum, e se esforça para realizar algo mais grandioso, profundo e abrangente.” (BS, ed. no 1.496, 20 de fevereiro de 1998, pág. 3.) Ele afirma ainda: “O mundo jamais irá melhorar enquanto as pessoas — que são a força propulsora e o ímpeto que estão por trás de todos os empreendimentos — forem egoístas e insensíveis. Nesse sentido, a revolução humana é a mais fundamental de todas as revoluções, e também a mais necessária para toda a humanidade.” (Ibidem.) 
O objetivo da Soka Gakkai é a concretização da paz mundial para a felicidade de toda a humanidade. Mas, para que isso se torne realidade, é necessário que cada ser humano que a compõe transforme-se interiormente, deixando de lado suas diferenças e preconceitos, e eleve seu nível de vida, procurando tornar-se útil à sociedade e contribuir para o bem-estar da comunidade. Essa é a nossa filosofia de vida. 
A “revolução humana” é uma busca diária, momento a momento. É vencer a si mesmo e às suas fraquezas. Tornar seu “eu” melhor hoje que ontem, e melhor amanhã que hoje. No Budismo de Nitiren Daishonin, cada instante é um desafio em que “não avançar é retroceder”. O mais importante é imbuir-se de coragem e sempre desafiar as circusntâncias baseando-se na recitação do Daimoku.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Matéria Reunião dia 26/03/2015 - As nove consciências


O budismo identifica nove tipos de funções espirituais de percepção, denominadas nove consciências. Os cinco primeiros tipos são percepções sensoriais obtidas diretamente pelos cinco órgãos dos sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Da sexta à nona consciência estão as funções perceptivas da mente. A sexta consciência é o poder que integra os cincos sentidos e faz um julgamento de forma inclusiva. Por exemplo, diante de um objeto bonito, mas de péssimo odor, temos a tendência de rejeitá-lo imediatamente. A sétima, denominada manas em sâncrito, representa o poder do pensamento. Em vez de criar um julgamento sobre o que foi percebido pelos cinco sentidos, nessa consciência procuramos encontrar uma certa ordem à luz das experiências vividas e das circunstâncias externas. Em outras palavras, é nessa consciência que existe a manifestação da razão, que é característica apenas dos seres humanos. Como resultado dessa consciência, manifestam-se os valores, conceitos e princípios que herdamos de outras pessoas, como nossos ancestrais, e o que aprendemos no dia-a-dia ou desenvolvemos pela busca de conhecimentos. Assim, por meio dessa consciência, manifesta-se a característica do ego, da discriminação, do auto-apego etc.
A oitava consciência é chamada de alaya, em sâncrito, e corresponder ao que a psicologia moderna denomina de inconsciente. Na consciência alaya, que significa repositório em sânscrito, acumulam-se todas as experiências vividas na forma de ações, pensamentos e palavras, do passado ao presente, ou seja, o carma. Dessa forma, mesmo que uma pessoa não se lembre do que fez em um passado próximo ou distante, tudo fica registrado nessa consciência e, de acordo com a lei da causalidade, não pode escapar da manifestação dos efeitos de todas as causas acumuladas.
Por fim, a nona consciência, denominada amala em sânscrito, significa imaculada. Ela encontra-se na parte mais profunda da vida humana, livre das impurezas que o indivíduo possa trazer como resultado de suas ações passadas e acumuladas na oitava consciência. Nitiren Daishonin elucida essa nona consciência como sendo o próprio estado de Buda, que se estende eternamente do infinito passado ao infinito futuro na vida de todas as pessoas.

De forma prática, como se manifestam as nove consciências no dia-a-dia?
Vejamos uma situação onde há um problema de relacionamento entre duas pessoas. Via de regra, nesse tipo de situação, cada uma das envolvidas analisa os fatos de acordo com sua conveniência e razão, convencendo-se plenamente de que a outra está errada. Assim, reage negativamente, com desrespeito, ofensa, agressão etc. Essas atitudes, muitas vezes, são decorrentes apenas de um julgamento ao nível da sexta consciência, isto é, a pessoa cria uma antipatia meramente pelo o que os seus cinco sentidos tenham captado, antes de uma análise racional no âmbito da sétima consciência. Porém, na maioria das vezes, um julgamento racional baseado em acontecimentos anteriores, isto é, a sétima consciência, acaba criando uma reação negativa. Em qualquer desses casos, as correspondentes ações, palavras e pensamentos resultantes acumulam-se na oitava consciência, na forma de carma negativo. E, dessa forma, cria-se um ciclo vicioso e negativo, alimentando cada vez mais causas negativas. Contudo, o que o budismo ensina é que no âmbito mais profundo de nossa vida se encontra a consciência amala, imaculada e límpida. Se analisarmos o problema com base nela, poderemos então mudar nosso comportamento, tendo uma conduta mais compreensiva, tolerante e até mesmo de gratidão com as pessoas.
Como adquirir forças para manifestar essa compreensão em meio às duras circunstâncias diárias?
Foi justamente para isso que o Buda Original revelou a Lei fundamental da vida, o Nam-myoho-rengue-kyo. Com a sincera recitação do Daimoku, pode-se manifestar coragem e convicção, que proporciona o desenvolvimento do estado de Buda. Assim, desenvolve-se a capacidade e sabedoria para conduzir a vida de forma segura, equilibrada e correta. Na escritura “Resposta à Dama Nitinyo”, Nitiren Daishonin afirma: “Nunca procure o Gohonzon em outros lugares. Ele somente pode habitar o coração das pessoas comuns como nós, que abraçamos o Sutra de Lótus e recitamos o Nam-myoho-rengue-kyo. O corpo é o palácio da nona consciência, a entidade que fundamentalmente reina sobre todas as funções espirituais do homem.” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 1, pág. 325.)
Há uma relação entre as nove consciências e os dez estados de vida?
Como citado no início, as nove consciências são funções espirituais de percepção. Nesse sentido, quanto mais se eleva o estado de vida, mais se aprofunda a correta percepção e compreensão dos fenômenos da vida. Assim, uma pessoa que vive no ciclo dos seis estados inferiores — Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade e Alegria — tem a característica de percepção da vida conforme as seis primeiras consciências. Já os estados de Erudição e Absorção, isto é, os dois veículos, estão relacionados com as percepções da sétima consciência. O estado de Bodhisattva caracteriza-se pela elevada capacidade do ser humano de perceber a vida pela oitava consciência. Por fim, o estado de Buda é a própria nona consciência conforme descreveu o Buda Original Nitiren Daishonin. 

domingo, 15 de março de 2015

Matéria Reunião dia 19/03/2015 - A lei de causa e efeito e a transformação cármica

Terceira Civilização - Edição 408 - Publicado em 01/Agosto/2002 - Página 3
O conceito de carma é certamente um dos pilares fundamentais de toda a doutrina budista. É tão importante para a compreensão de certos aspectos filosóficos que seu uso já extrapolou os próprios budistas, sendo normalmente empregado por não-budistas e até mesmo não-religiosos.
A idéia de carma (do sânscrito karma ou karmam, significando “ação”), ou de que tudo é regido por causas e efeitos, bem como a concepção de que a vida passa pelo infinito ciclo de nascimento e morte, na verdade são anteriores ao surgimento do budismo, fazendo parte de diversas filosofias originárias da Índia e região. Entretanto, a partir do advento do budismo, esses conceitos foram reinterpretados, fornecendo então uma nova visão de vida às pessoas.
Em sua acepção mais simples, o conceito de causa e efeito encontra similaridade em diversas áreas da cultura e do conhecimento humano, da física à biologia, da matemática às ciências humanas. Mesmo em relação a outras correntes religiosas, existe o consenso de que atitudes positivas ou negativas geram efeitos do mesmo quilate. Entretanto, a visão budista de causa e efeito tem como principal diferencial o fato de que o resultado dessas atitudes não será determinado pelo julgamento de uma entidade externa e superior, mas sim em decorrência de um processo natural à própria vida e ao Universo.
A doutrina budista afirma que, basicamente, as causas podem ser formadas por meio de pensamentos, palavras e ações. Essas causas permanecem então “depositadas” na vida do indivíduo, e esse repositório constitui-se assim no carma de determinada pessoa.
O Budismo Mahayana considera que as ações cármicas ficam depositadas na oitava de um total de nove consciências, ou seja, na consciência alaya (“repositório” ou “depósito”, em sânscrito).
As primeiras cinco consciências correspondem à percepção de cada um dos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato.
A sexta consciência refere-se ao instinto, ou seja, o poder de integrar os cinco sentidos e reagir de acordo.
A sétima consciência, denominada mano ou manas, corresponde à capacidade exclusiva dos seres humanos de pensar e fazer julgamentos com base na razão.
E é na oitava consciência, alaya, que o resultado das experiências vividas é “arquivado” e que novas ações mentais são produzidas. Portanto, existência após existência, essa consciência carrega o resultado das causas efetuadas ao longo da vida e dá origem a outras. Esse carma não diminui nem desaparece por si só, e o seu efeito manifesta-se conforme a presença de estímulos apropriados.
A nona consciência, denominada amala (“imaculada”, em sânscrito), corresponde ao nível mais profundo da vida humana, livre da influência de qualquer causa realizada. Trata-se do “eu” essencial representado pelo estado de Buda. A partir de sua influência, criam-se as reais condições para transformar positivamente qualquer espécie de carma. Essa idéia também é expressa pela analogia com a flor de lótus, cujo desabrochar puro permanece imaculado em meio às impurezas do pântano lamacento e que deu origem ao mais importante tratado budista a respeito, o Sutra de Lótus.
“A flor de mahamandara no céu e a flor de cerejeira no mundo humano são notórias, mas o Buda não escolheu nenhuma delas para ser equiparada ao Sutra de Lótus. De todas as flores, ele selecionou a flor de lótus para simbolizar o Sutra de Lótus. Há uma razão para isso. Algumas plantas primeiro florescem e depois produzem frutos, ao passo que em outras os frutos aparecem antes das flores. Algumas geram somente uma flor, mas muitos frutos, outras dão frutos sem florirem. Desse modo, há várias espécies de plantas, mas o lótus é o único que produz flores e frutos simultaneamente. O benefício de todos os outros sutras são incertos, pois ensinam que a pessoa deve primeiro fazer boas causas e, só então, poderá tornar-se um buda em algum tempo a seguir. O Sutra de Lótus é completamente diferente. Uma mão que o segura imediatamente atinge a iluminação, e uma boca que o recita instantaneamente entra no estado de Buda, assim como a Lua é refletida na água no momento em que se eleva por detrás das montanhas do leste, ou como o som e seu eco surgem concomitantemente. É por isso que o sutra afirma: ‘Entre aqueles que ouvem esta Lei, não existe ninguém que não atingirá o estado de Buda’. Essa passagem indica que se houver cem ou mil pessoas que abracem este sutra, sem uma única exceção, todas as cem ou mil delas tornar-se-ão budas.” (“Wu-lung e I-lung”, As Escrituras de Nitiren Daishonin [END], vol. 4, pág. 295.)
Nitiren Daishonin relacionou o conceito da lei de causa e efeito ao termo myoho (lei mística) e incorporou-o a um mandala, o Gohonzon. No centro desse objeto de devoção, encontram-se as palavras Nam-myoho-rengue-kyo Nitiren, as quais possuem em comum a utilização do caractere ren, que significa “lótus”. Tal fato não só enfatiza a supremacia do Sutra de Lótus em relação aos demais ensinos de Sakyamuni, como também remete a um dos principais conceitos do sistema filosófico budista referente à lei de causa e efeito, cuja simultaneidade é simbolizada pela germinação das flores e dos frutos do lótus.
A Lei Mística (myoho) corresponde à realidade fundamental de todos os fenômenos que transcende as três existências da vida — passado, presente e futuro. A lei de causa e efeito (rengue) é a maneira pela qual essa verdade manifesta-se em nossa realidade. Assim sendo, a compreensão da natureza da lei da causalidade e seus desdobramentos é a chave para a transformação fundamental da vida.
Diferentemente da conotação que a palavra “lei” adquire em outros campos da sociedade, no contexto dos ensinos budistas ela equivale ao termo sânscrito dharma, indicativo tanto dos ensinos do Buda como da verdade para a qual ele despertou em relação à natureza do Universo. Desse fato extrai-se a importante constatação de que essa “lei” não foi criada por outras pessoas (leis sociais) nem por um ente superior (leis divinas), cabendo a cada indivíduo desenvolver a percepção necessária da realidade dos fenômenos a fim de direcionar-se para a felicidade. Essa percepção é exercitada por meio da prática budista, que visa à manifestação dessa lei no plano individual e interior da vida como base também para a reforma do ambiente externo. 

Transformando o carma 


O carma pode ser classificado de diversas formas. Causas positivas ou negativas geram o efeito correspondente. Além disso, os efeitos desse carma dependerão do tipo de ações executadas (pensamentos, palavras ou ações), da força da intenção relativa a essas ações e do objeto ou da pessoa aos quais elas foram direcionadas. 
Uma outra forma de classificação do carma diz respeito à mutabilidade. Geralmente, acredita-se que as causas mais leves criam o carma mutável, enquanto que as mais graves geram o imutável. No caso do carma mutável, não existe um momento específico para que surjam seus efeitos, os quais também não são fixos. A maioria das ações das pessoas enquadra-se nesse tipo de carma. Já o carma imutável é causado por atitudes extremamente graves ou excepcionalmente boas. Normalmente mostra seus efeitos em um momento específico, seja na existência presente seja nas futuras. O ato de caluniar a Lei enquadra-se nessa espécie de carma. Como um dos efeitos do carma imutável, cita-se a duração da existência de uma pessoa. 
O carma mutável pode ser modificado por meio da melhoria no comportamento diário, mas o imutável só pode ser transformado pela prática budista. Isso ocorre porque normalmente ao tentar escapar dos efeitos do mau carma, as pessoas criam novas causas negativas, permanecendo em um ciclo de sofrimento e causas negativas. A denominação “carma imutável” provém do fato de que, embora possam ser realizadas causas positivas, esse tipo de carma não pode ser mudado fundamentalmente, sendo necessário sofrer seus efeitos. Entretanto, ao se realizar a prática budista, é possível evidenciar uma energia, determinação e sabedoria de tal forma que se contraponha ao efeito gerado, fazendo com que a vida da pessoa seja fortalecida e ela acabe superando o efeito negativo. 
Na escritura de Nitiren Daishonin “A Transformação do Carma Determinado” consta a seguinte frase: “De maneira semelhante, o carma pode ser dividido em duas categorias: determinado (mutável) e indeterminado (imutável). Devido ao fato de que até mesmo o carma determinado pode ser erradicado por meio do completo e genuíno arrependimento, é desnecessário dizer que o carma indeterminado pode também ser totalmente transformado.” (END, vol. 1, pág. 215.) O Sutra Fuguen declara: “O mar de todos os obstáculos cármicos surge das ilusões. Se deseja arrepender-se de seus maus atos, sente-se ereto e medite sobre a verdadeira entidade da vida. Então, todas as suas ofensas se desvanecerão como gotas de orvalho sob a luz do sol.” 
Cabe ressaltar que os termos “ser totalmente transformado” ou “dissipar-se” não se referem à idéia de que uma pessoa não sofrerá os efeitos do carma, mas que ela poderá transformá-lo. O sincero arrependimento (correspondente ao princípio budista de zangue) surge quando se enfrenta grandes dificuldades e se compreende que elas decorrem do próprio carma negativo. A frase “sente-se ereto e medite sobre a verdadeira entidade da vida” indica o ato de recitar o Daimoku. Disso entende-se que, por mais que hajam causas positivas, não é possível amenizar o carma se não houver um arrependimento sincero pelas causas negativas. Essa questão ultrapassa amplamente a atitude de simplesmente nutrir algum sentimento de culpa pelas causas passadas e se aprofunda no sentido de compreender perfeitamente a natureza dos sofrimentos e realizar a prática adequada para que seus efeitos não desviem a pessoa do correto caminho rumo à felicidade absoluta. Pelo contrário, os ensinos budistas postulam que se deve fazer dos sofrimentos causas para o próprio desenvolvimento. Este é o princípio de hendoku iyaku, ou seja, “transformar o veneno em remédio”. 
Em outra escritura, “Amenizar o Efeito Cármico”, o Buda Original afirma: “O Sutra do Nirvana ensina o princípio de tenju kyoju, que significa ‘amenizar o efeito cármico’. Se o mau carma do passado de uma pessoa não é expiado nesta existência, ela deverá passar pelos sofrimentos do Inferno no futuro. Mas, se experimentar extremas privações nesta existência por causa do Sutra de Lótus, os sofrimentos do Inferno dissipar-se-ão instantaneamente. Quando morrer, obterá os benefícios da Alegria e Tranqüilidade, assim como os dos Três Veículos e os do Supremo Veículo.” (END, vol. 1, pág. 233.) 
Na frase do Sutra Fuguen anteriormente citada, o termo “sol da sabedoria iluminada” refere-se ao Nam-myoho-rengue-kyo. Em outras palavras, indica o estado de Buda latente na vida de uma pessoa no nível da nona consciência. Ao realizarmos a prática budista com máxima sinceridade e fé, ativamos esse nível fundamental de consciência, que pode transformar o carma acumulado no nível anterior da consciência alaya, bem como influenciar positivamente a ação das demais consciências. Assim, conforme indica o princípio de amenizar o efeito cármico, podemos experimentar os efeitos do carma imutável de maneira mais branda e erradicá-lo mais brevemente do que o faríamos sem a prática budista. 

segunda-feira, 9 de março de 2015

Matéria do dia 12/03/2015 - Três Princípios da Individualização da Vida (sanseken)


A vida manifesta seus diferentes aspectos e revela seu caráter distinto no mundo real. Todas as formas de vida têm qualidades individuais e únicas.  Os três princípios da individualização da vida (sanseken) constituem-se nos cinco componentes da vida (go’on seken), no ambiente dos seres vivos ou ambiente social (shujo seken) e no ambiente natural (kokudo seken). Os seres vivos são indivíduos que manifestam a qualquer momento um dos dez estados. Os cincos componentes são os elementos constituintes que se unificam temporariamente para formar um ser vivo, e o ambiente é onde os seres vivos conduzem suas atividades. Podemos julgar os três princípios da individualização como as três dimensões do mundo fenomenal no qual os dez estados se manifestam.  Os cincos componentes da vida são: 1) Forma (shiki): O aspecto físico da vida, o qual possui atributos como forma e cor. A forma também indica os órgãos sensoriais — olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo — por meio dos quais percebemos o mundo exterior. 2) Percepção (ju): É a função de receber as informações externas por meio dos seis órgãos sensoriais (os cinco sentidos mais a “mente”, que integra as impressões sensoriais). 3) Concepção (so): Função pela qual a vida compreende e elabora idéias sobre aquilo que foi percebido. 4) Volição (gyo): É o desejo de agir com relação àquilo que foi percebido e sobre o qual foi concebida uma idéia. 5) Consciência (shiki): É a função de discernir, fazer avaliações, distinguir o bem do mal etc. Ao mesmo tempo, age para apoiar e integrar as demais quatro funções.  Em termos dos aspectos físicos da vida, a “forma” corresponde ao aspecto físico e os outros quatro, aos aspectos espirituais. Entretanto, uma vez que o corpo e a mente são inseparáveis, os cincos componentes devem ser compreendidos como um todo. As diferenças dos dez estados manifestam-se em cada um dos cincos componentes. Uma pessoa no estado de Inferno perceberá e reagirá a um certo fenômeno de uma forma absolutamente diferente do que faria no estado de Buda. O carma que ela cria também será diferente. Assim, as ações dos cinco componentes são coloridas pelo carma individual formado em sucessivas existências e também agem para acumular mais carma. “On”, de go’on, traduzido como “componentes”, significa “acumular” e “obscuro ou véu”. Nos estados não iluminados da vida, os cincos componentes agem para “acumular” sofrimento e “obscurecer” a natureza de Buda. Quando baseados no estado de Buda, agem para acumular boa sorte e são cobertos de benevolência.Os cinco componentes da vida expressam-se de diferentes modos de acordo com suas dez condições. Ao mesmo tempo, os seres vivos mostram distinções de acordo com seu ambiente. Assim, enquanto o princípio dos cinco componentes analisa o ser vivo em suas funções físicas e psíquicas constituintes, o princípio do ambiente do ser vivo (kokudo seken) o considera um indivíduo integrado capaz de interagir com seu ambiente. O princípio do ambiente dos seres vivos (shujo seken) pode também ser interpretado no plural, para indicar todos os outros seres vivos com quem o indivíduo se relaciona, ou seja, o ambiente social. Nesse sentido, o princípio dos seres vivos aponta para a verdade de que vivemos num estado de permanente inter-relação e dependência mútua com outros seres vivos. O princípio do ambiente natural significa o local onde os seres vivos habitam e do qual dependem para sua sobrevivência. Nele se incluem os seres insensíveis, como as montanhas, rios, plantas etc. Não somente os seres vivos mas sua terra possui inerentemente os dez estados. Entretanto, ela não tem condições de vida independente. De acordo com o princípio da unicidade da vida e seu ambiente, ela manifesta o estado de Inferno, Tranqüilidade, Bodhisattva etc. em resposta à condição de vida daqueles que nela habitam. A implicação mais significativa aqui é a de que se pode transformar o ambiente por meio da elevação do estado de vida. A iluminação não reside em qualquer princípio especial. Ao contrário, pela evidência de seu estado de Buda inato qualquer pessoa pode tornar seu ambiente na “terra do Buda”. Os três princípios da individualização servem também para explicar as diferenças entre os seres vivos. As diferenças mais básicas expressas nos três princípios são aquelas dos dez estados. Segundo o Grande Mestre Tient’ai, “uma terra deste mundo possui também os dez fatores”. O ambiente contém todos os dez fatores e cada um deles, por sua vez, é dotado dos dez estados e, assim, teoricamente, o ambiente pode manifestar o estado de Buda. Enfim, os três princípios estão inerentes em nossa vida. Portanto, quando abraçamos o Gohonzon e aprofundamos nossa fé, manifestamos o estado de Buda em nossa existência individual. Os três princípios da individualização da vida apareceram pela primeira vez no Daitido Ron de Nagarjuna, porém quem os desenvolveu como um componente do princípio de itinen sanzen (três mil mundos em uma existência momentânea da vida) foi Tient’ai. De acordo com esse princípio, cada um dos cem mundos decorrentes da possessão mútua dos dez estados contém os dez fatores e, por meio dos três princípios da individualização, chega-se aos três mil mundos.